terça-feira, 20 de novembro de 2007

Se eu fosse a outra que não eu

Não é a traição que me incomoda. É a forma que você diz querer que eu não sofra. É a forma que você acha que eu não poderia suportar a sua ausência. É você querer tudo sempre. É você não ser capaz de assumir as suas vontades. É você continuar comigo pelo simples fato de lhe faltar coragem para mudar e sustentar suas escolhas. Ou o contrário. Dizer para si que deseja e irá mudar e dizer também não se permitir tal coisa por minha causa. Assuma as suas vontades, engula as minhas traições e sustente seus desejos. Se outra não acredita em você (e eu só finjo que sim!), por que você ainda faz tanta questão de enganar a si próprio?
Eu errei com você. E ainda assim desejei continuar ao seu lado. E agora, a partir do momento que você aceitou a condição de continuar como meu namorado, é isto que você deve ser: meu namorado. Realmente não entendo o fato de você ficar com outras pessoas (porque certamente não deve ser só uma que prende a sua atenção), dizer que não sente culpa porque, no fundo, já passou por isso. Já sofreu e foi traído, então, afinal, pode fazer o mesmo comigo.
Aceitar ficar comigo significa perdoar. Se você não me perdoa, do fundo da sua alma, não entendo a sua motivação.... Perdoe-se ao menos por ter perdoado! Aceite e assuma que é comigo que você quer ficar, ou então saia da minha vida com dignidade, independente de todo o sofrimento, culpa e mágoa que eu possa viver caso tudo isso acabe... Eu vou aprender a viver sem você, mesmo que seja você um dos grandes amores da minha vida. Pois se você não consegue transpor tudo que aconteceu e acreditar que muita coisa mudou, é porque EU não devo ser um grande amor da sua vida e, nesse caso, tanto faz continuarmos ou não juntos.
Sofrer todo mundo sofre... e nos apegamos em poupar o sofrimento alheio por puro egoísmo. Por acreditarmos que somos importantes demais na vida de outra pessoa. Acreditamos ser insubstituíveis. Nos apegamos por não saber lidar com o sofrimento alheio tão próximo de nós, por sentir culpa. E nos apegamos porque nós mesmos sofremos com uma separação, seja lá de qual forma ela ocorra. E não sabemos lidar principalmente com este sofrimento. Não é fácil se despedir de muitas coisas na vida. E acreditamos, dia após dia empurrado com a barriga, que esta é a melhor escolha. Todo mundo finge que não sofre, todo mundo finge que tomou uma grande decisão na vida a cada dia que passa e nada muda de lugar. E o superficial se torna cada vez mais profundo. Você continua vivendo sua vida paralela, eu continuo acreditando nas suas noites de poker. Você continua tendo semanas que não quer me ver mas eu tenho paciência porque sei que logo na outra semana isso muda. E assim vamos levando uma relação medíocre e miserável, em que mentimos a nós mesmos antes de mentir ao outro, afirmando que só mentimos ao outro sem nos sentirmos culpados.
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Não... eu não sou essa do texto acima. Hoje só resolvi me colocar em outro lugar da situação e pensar um pouco como eu enxergo um determinado tipo de relação. Tudo bem que eu sei pouco do que acontece mas não é meu objetivo saber também. Meu objetivo também não é julgar, apontar. Não escrevi por ninguém, pra ninguém, a não ser por mim mesma. É o que EU penso. E muito menos é minha pretensão tentar adivinhar o que eles pensam. Até porque eu estou extremamente fora disso. Nessa história, eu sou só coadjuvante da traição de uma das partes (da dele, por favor!). Eu FUI só as falsas noites de poker.

sábado, 3 de novembro de 2007

E em algumas noites, eu escrevo

Não sei se há grandes explicações para os sentimentos. Não sei se dá pra saber de que forma, em qual data eles nascem. Não existe maternidade da paixão. E muito menos cemitério de paixão. Se assim fosse, eu seria uma coveira de mão cheia… ou uma parteira? Não importa. Mas paixão nunca me assustou. Também não sei se estar apaixonada pra mim significa a mesma coisa que pra você. Na verdade penso que nenhum sentimento forte me assusta muito. Por piores que eles sejam, eles não me deixam esquecer como é estar viva!

Eu sei que a maioria das coisas que eu disser aqui vai parecer uma grande bobagem pra você. E acho que até pra mim eles soam como ingênuos, como se eu escutasse a menina de 12 anos falando. É bonitinho… e só! Imagino também que não será uma grande surpresa pra você. Porque a impressão que permanece de mim mesma é que eu sou a pessoa mais transparente do mundo. Muitas pessoas são (não você!), mas acho que ainda ninguém me supera. Infelizmente…

Tudo bem que eu ainda tento. E que eu ainda acredito que um dia eu só vou mostrar aos outros o que eu bem entender. Ou pelo menos aquilo que as pessoas quiserem enxergar. Eu tento disfarçar. E tento muito. Tento falar o máximo de bobagens por minuto pra não demonstrar toda a vontade que eu sinto de estar ao seu lado. Muitas vezes me calo para o mundo, converso com o espelho, com o travesseiro e até com alguns amigos imaginários… Tento fazer com que a química que temos, o tesão que sentimos, permaneça só neste nível, só na vontade louca e inexplicável que sentimos quando chegamos a um palmo de distância um do outro e que você não perceba que algumas vezes eu prefiro imaginar você deitado no meu colo no sofá, enquanto eu mexo no seu cabelo e a gente ri (ou chora) em contar como foi mais um dia, uma semana de rotina ao invés de pensar em você como uma transa totalmente louca no sofá, na cozinha ou no quarto. Claro que eu adoro essa parte também. Mas de certa forma, é a outra parte que me completa. E, sinceramente, gosto das duas partes juntas! (Talvez aquele dia que você deitou de costas e eu te fiz massagem chegue perto do que eu mais quero! Tanto pelos beijos no seu pescoço que misturavam carinho e desejo para só partir então pra todo o resto e, principalmente por poder te ver sentado na minha cama, curioso por uma parte da minha vida que você conhece pouco! Apesar de que eu já sei que a sua memória não é pontual como a minha e você nem lembrará tudo isso!).

Acho que a maioria das pessoas chamaria isso de paixão. Mas não sei se gosto muito dessa palavra, sabia? Acho que paixão é uma palavra muito forte, muito desequilibrada, com uma carga de sofrimento misturado com angústia, com loucura, com miopia, com tesão, com impulsão muito alta. Pode ser que seja paixão mesmo, apesar de eu não sentir a carga do sofrimento. Sinto as coisas outras… Outras que não sofrimento… outras tantas misturadas, que me confundem, que me fazem sorrir no meio de lágrimas, que não me deixam esquecer de você, que me fazem conversar, e rir, e suspirar sozinha.

Pensando de uma forma racional e prática (pois é, acho que às vezes eu consigo fazer isso!), eu diria que tudo não passa de fantasia. Porque fantasiar com alguém que não está com você de fato e de direito é muito mais fácil. Você imagina o que quer, acredita no que imagina, tira os pés do chão e vive no céu o tanto de tempo em que você se permitir. E admito que eu tenha uma forte propensão a fantasiar. As coisas muitas vezes se tornam mais fáceis assim para mim.

Mas sei que ninguém pode viver assim durante muito tempo. Também sei que a minha situação atual facilita essa postura. Essa de fantasiar. Muitas vezes a carência bate e a vontade de sair de casa para mais uma noite vazia é mínima.

Você é legal, me dá atenção. Por menos que pareça, eu tenho noção (às vezes!). Sim, eu sei que a sua intenção nunca foi a de me seduzir, nunca me fez falsas promessas e nem planos, nem mesmo os superficiais. Que a sua vontade nunca foi a de saber o que eu penso, pelo quê me interesso, qual meu prato predileto, se prefiro brigadeiro a doce de leite, quais são as minhas dúvidas e meus anseios de vida. Nem saber se eu já sofri por amor, se já me senti sozinha do lado de alguém, e do que eu realmente sinto saudades. Sei que a sua vontade nunca foi a de misturar tudo, jogar sentimento e desejo no liquidificador, apertar o botão e ver o que dá. Eu também tentei fazer isso. Tentei deixar cada coisa no seu devido lugar, não perguntar muito pra não saber muito e não me interessar muito. Mas foi uma tentativa frustrada.

Quando eu menos esperava, eu já tinha apertado o botãozinho e já escutava aquele barulho infernal. Mas via uma mistura deliciosa, com olhos de criança que namora um algodão doce no parque numa tarde de sábado. Via! Porque, racionalmente, não penso que eu possa vir a experimentar o que toda aquela mistura se tornou. Porque o liquidificador é meu, as fantasias são minhas, e eu fui a responsável por tal insanidade. Mas claro que vontade e desejo eu tenho, não nego.

Eu tenho consciência de que todas essas coisas se passam só no meu mundo. Que está bem longe do seu. E agora você deve estar se perguntando: por que raios essa doida resolveu me contar isso? Na verdade, assumir isso. Porque tenho a estranha impressão que isso sempre foi muito claro pra você! Então eu respondo… Resolvi contar porque sei que eu só vou pisar no chão de novo depois que eu dissesse tudo isso. Que eu fantasio sim, que eu imagino a gente juntos de verdade, na carência, nas bobagens, nas gargalhadas, em cima da mesa, no banheiro, na cama, no cafuné num final de semana de chuva, na cerveja de toda santa sexta… Eu, sabendo que você sabe, acredito que as coisas fiquem mais fáceis pra mim. Fica mais fácil das fantasias evaporarem para que os sentimentos tomem os devidos lugares nas devidas proporções…

Que a admiração seja só admiração, que o desejo seja só desejo, que o tesão seja só tesão, que a curiosidade se perca junto com as minhas vontades de mais de tudo. E que todas essas coisas não conversem entre si e não façam mais confraternização, misturando tantos sentimentos e sensações e me confundindo inteira. Que você possa dizer: Mari, menos, muito menos porque eu não sinto nada disso. Porque eu já tentei, mas, desculpa, eu não acredito em mim!

Todo o santo dia eu tento abandonar minhas fantasias… tento acreditar que entre o diálogo da fantasia com a realidade, deixo o futuro no passado e piso, devagarzinho, meus pés no chão…